Inevitável foi o destino, lamentável foi esse fim e o novo começo, muitas outras coisas foram lamentadas. Hoje carrego comigo o que lamentei durante tanto tempo e agora sou o que sou. Não posso mudar o que já esta no passado, mas posso tentar escrever o futuro, mesmo que seja como um poema errante - terá ao menos a possibilidade de ter uma linha correta do que será o amanhã para mim.

- mano... diz algo para ver se eu já escuto! - disse para meu irmão do lado de fora de casa em frente à janela de onde podia ser visto uma pequena sala com uma estante e alguns objetos. Ele se embalava em uma rede e no momento olha para mim e diz algumas palavras. foi o suficiente para que minha imaginação de criança interpretasse o que meus olhos liam em seus lábios como um sinal de que estaria ouvindo suas palavras. Estava de frente para o caminho que me levaria à escola. Estava nervoso, e esse pedido que fiz para meu irmão foi para ver como me sairia quando tivesse me confrontando com as pessoas de lá.
Os jovens corriam em frente à rua da escola e cada vez que eu me aproximava dela sentia mais medo, meus colegas estavam no meio de todos os outros jovens e por isso fique no recato de me aproximar. A escola era um prédio antigo com um pequeno muro que a separava da rua, em uma das suas laterais o muro sofria uma curva sinuosa para dentro a dar espaço a um poste de luz na rua onde uma sobra da calçada da escola ultrapassava os limites do muro deixando um lugar propicio para sentar. Por um momento observei a todos e depois sentei na calçada que passava o muro, fiquei um bom tempo pensando como seria minha estadia na aula, lembrava dos meus colegas, das brincadeiras de garotos que tínhamos no passado, das implicâncias criadas com as meninas apenas por gozação de garotos, tudo isso me fez ficar distante
do momento, esqueci o que estava se passando ao meu lado e foi ai que sentir uma mão tocar meu ombro. Olhei assustado e em seguida o susto se transformou em timidez quando vi que era uma das minhas colegas de sala que ficou no mesmo estado emocional que eu.
- Vamos – as palavras dela chegaram até mim mudas e acompanhadas de um gesto timido que facilitou a compreensão do que ela estava falando. Levantei e percebi que todos os alunos já haviam entrado então segui minha colega que, como eu, não disse mais nem uma palavra.
Três crianças corriam sobre o gramado de uma pequena praça ao lado de um antigo colégio. Risos se propagavam no ambiente, a brincadeira dos meninos se transformava em uma verdadeira algazarra ao começarem a rolar no chão. Um som agudo corta o barulho dos risos, e todos os garotos olham para o colégio, segundos depois corriam em sua direção. De dentro da sala de aula os olhares dos colegas, que haviam chegado antes, fitam os três garotos agora em frente à porta. Risos contidos contornavam seus lábios e gotas de suar escorriam sobre os rostos alegres que entravam na sala. De repente, o jovem do meio para, seu rosto alegre tornou-se grave, e as gotas de suor desapareceram. Estava bem arrumado, diferente da situação que fica após o intervalo.
Todos olhando para mim. Seus olhares agora eram diferentes daqueles que me fitavam após o retorno de um intervalo, foi um desses momentos felizes que passaram em minha mente antes de chegar à porta da sala de aula.

No começo me senti assustado, fui vitima da ansiedade e por isso meu espírito caiu no desespero. Achava que meus colegas não me aceitariam como no passado, ficaria apenas como um coadjuvante na historia que havíamos construídos juntos. O oposto foi provado minutos depois. Todos, curiosos, queriam saber como eu estava, se os compreendia, queriam saber de tudo e, em momento algum fui abandonado por eles. Sempre davam um jeito de conversar comigo, cada um tinha seu modo. Uns escreviam, outros faziam gesto. O posto foi provado, o erro foi me preocupar com o que eu não sabia que seria, imaginar algo que não conhecia, esse foi o susto que minha consciência me deu, o medo tomou conta de mim por eu ter me deixado levar pela ansiedade... ... ...